terça-feira, 16 de novembro de 2010

Entre Sentir

Entre Sentir

Entre essas forças da noite
Entre esse sono pesado e antigo
Por baixo do que eu não penso, não peso, não esqueço
Esse excesso de uso da palavra saudade que eu não quero mais
O querer por novos gostos, tons e luzes
O querer pelas pálpebras abertas em ilusões felizes e embaralhadas
Não chorar
Não criticar a sátira pequena
Olhar o todo
Fincar no tombo o dormir
Acordar com marcas do plano em que se molda
Ser gente
Não ler o avesso do que se disse rápido demais, lento demais, demais demais
Focar o ar
Chegar à loucura que fica na beira do prazer da morte
Pular em si
Saudar-se enfim por todo um caminho que chamou-se Sentir

(feito agora com sono e de sono)

sábado, 9 de outubro de 2010

~ ~



Se eu pudesse ler todos os dias seu texto (03/09) para mim, descobriria coisas diferentes todos os dias. Mas uma coisa é igual: o motivo dele é a sua procura por si, e é essa vontade que pula à mim.
Desligar-se de tudo que impregna (de forma boa e ruim) para então respirar tão fundo quanto nunca se alcançou. Reconhecer os limites que os sentimentos mais singelos criam, ou reconhecer o poder das faltas.
Ao ler sinto o óbvio: não sou você, nem mesmo uma partezinha mínima. Como pode o amor enganar tão fácil?!
Você também não é parte alguma minha. Olhos, boca, sentidos batem e pulsam onde quer que você esteja, lembrando ou não de mim.
Mas sim, quero te conhecer, te ter para fazer parte de qualquer beleza que você sentir passar (demorada ou rapidamente). E esses desejos, que nos impedem de analisar tanto a vida, são naturais como a sede que o clima seco traz e faz qualquer outra coisa confusa.
Obrigada por me deixar viver um sentimento com você, seja ele qual for.

À você, Bruxo.



quarta-feira, 6 de outubro de 2010

De Brasília Sem as chuvas

De Brasília

Sem as chuvas

Nada de chuva por mais de cem dias.
Os ventos desse tempo brincavam.
Eram quase uma dança, fortes, uivavam, fingiam carregar deuses.
Traziam não sei de onde aquela animação quase assassina.
Empurravam folhas, quebravam galhos, embaraçavam cabelos.
Eram ventos do fogo.
Toda a força que permeia o elemento fogo parecia escancarada nos ventos da época seca.
As queimadas enormes por toda a região centro-oeste ilustraram bem o poder dos ventos do fogo.
Talvez o mesmo vento que assombrou ao meu pai e ao meu irmão, e os fez correr para fechar janelas e varandas, tenha ajudado a queimar 2, 4, 6 km de cerrado.
"O cerrado se protege", disse o Peter ao assistirmos a mais um grande e distante cinturão de fogo.
Os vidros de portas e janelas tremiam com os ventos. Esperei vê-los trincar. Não aconteceu.
Dois meses (ou mais) de ventos violentos, respiração poluída de fuligem, cabelos e roupas com o odor da fumaça; os campos verdes próximos à minha casa com pontos de luz à noite e extensas partes pretas de manhã.
Todo esse período chamou muito a minha atenção. Mas lindo foi assistir ao (que foi para mim) seu encerramento.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Comum em noites sem frio

Comum em noites sem frio

Li, enquanto esperava o sono, algo que não quis
Li que já não sentia, li em mim
Por todas as noites que esperei o céu cair sobre tudo
Acreditei nos instantes de sorriso
E, sim, eu confiei nas percepções que me cabiam
Afinal, é assim que se toca a si: fingindo crer no que se pensa
Ou não
O caso é que as dúvidas nascidas do ventre das minhas rotinas
Não me pesou
Nem pelo contrário
Talvez daí venha a dor
Toda essa indiferença que sinto com algo meu
E um algo até importante (porque não?)
Não compreendo mesmo isso do meu descontrole
Da falta de anseio, de sonho forte
Todo o meu alimento, de repente, se fez pele
Pele minha, de meu corpo
Para onde fugir agora?
Onde escapar do cílios dos meus pensamentos, que não piscam mais?
E me cansam, não pausam.
Passo a medida que entendo
Cuido e adormeço de preguiça
Viver sem pensar
Esperar o espanto-pai, que cria as mentes
Querer o Querer do que me escrevo
Dormir em branco.

(mai/2010)

sábado, 26 de junho de 2010

Meu lamento ao que sofre o nordeste

Meu lamento ao que sofre o nordeste

Enquanto o noticiário faz um grande alarde, sem música ao fundo e trechos de vídeos, eu penso. Enquanto a expressão séria, até sincera, aparece no rosto do apresentador do jornal da noite, eu penso. Eu penso: quem será que de verdade está dando atenção aos desastres de Alagoas e Pernambuco?
Fico pensando, na verdade lembrando, de outras catástrofes, ainda desse ano, no estado do Rio de Janeiro. Eram apelos em cima de apelos, verdadeiros e necessários sim, mas com uma carga muito maior de presença. Aquilo nos fazia abrir a boca, involuntariamente e dizer: Como que a gente doa algo? Víamos então os olhos dos afetados, sem casa, de luto, esperando do governo uma resposta e o governo apelava solidariedade.
Talvez seja ignorância ou falta de percepção minha, mas a súplica que vi no olhos dos nordestinos, na tevê da minha casa (muito bem intacta) foi um pedido à Deus. É para Deus que se pede forças, sorte, saúde. Esperteza a mais do sudeste. Hipocrisia de quem vê e deita em inércia depois.
Penso: quantos, como eu, sentiram ímpeto de entrar na tevê, e com uma enxada tirar o barro que enguliu a escola das crianças dali? Acho que poucos. Quantos já tentaram se inscrever na Cruz Vermelha? Acho que poucos. Eu já busquei e não, não é fácil. Erro grave. As pessoas desistem pelas complicações de acesso até uma "inscrição" ou mesmo falta de informação. Abandonei porque sou menor de idade. E depois? Acredito que ideias expontâneas não nos abandonam, deixe essa rondando em mim.
Rezo que Deus e muitos homens ajudem essas pessoas que perderam tudo: moradia, memórias, amores, família. Por muito tempo elas ainda vão respirar o barro do que aconteceu por que as ações governamentais são lentas no nordeste. Mas que na mente deles, o descanso venha logo e que o sono seja leve. Que Deus os proteja.

(23/06/2010)

domingo, 16 de maio de 2010

Rastro de meu leito

Rastro de meu leito

Minhas unhas agora azuis
O fato de eu ser mulher
Minha vista com foco em um enquadramento diferente para escrever
Meu medo de deixar de amar o amar o amor que tenho
A vontade de entender as explicações que me dou
O me encontrar
O não estou
A felicidade que me visita e me confunde
O fato de eu ser mulher
O desejo pelo alguém alheio, alheio a mim, alheio a tudo
As opiniões sem restrito aparente
O rosto limpo e claro antes de dormir
A vontade de chorar agora, até amanhã
Meu espelho opaco de manchas que não limpo
Essa loucura da minha cabeça que pensa que eu posso me bastar
O fato de eu ser mulher
Minha pouca idade
Minhas condições de filha, filha, irmã, amiga
Minha condições de eu, de mim
Minhas paranóias de perder o entender entre os dedos
Essa entrega completamente não entregue ao amor
Que amor? Que o quê? Não sei
O fato de eu ser mulher
Eu, que nunca fumei, mas que pareço disso sentir falta
Em noites assim, sem sono, sem ternura
Ser o quê?

domingo, 18 de abril de 2010


Uma amiga de que sinto muita falta, me fez uma coisa bem bonita,
e eu sei bem que nunca agradeci como devia.
Sei que ela merecia um escrito lindo, um feito por alguém
que escreve bem melhor que eu. Mas hoje, a vontade de mostrar
o quanto esse carinho me faz contente inibiu as ideias, sem querer!
A retribuição, eu prometo, virá.
Mas hoje fica pelo menos a mensagem.

Rita, querida, seu carinho me faz sentir maior que sou.
Obrigada.


sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sobre voltar sozinha

Sobre voltar sozinha

Depois de seguir o ritual de ter que voltar à casa
Só resta pensar sobre o antes
Sobre o não querer estar no agora
Sobre como o tempo inexiste quando se está feliz
Ando pensando, enquanto me troco pra dormir
Em onde tantas coisas vão parar
Os atos que morrem,
Nem todos viram memórias
Pra onde vai todo o resto?
No meu quarto claro da luz da lâmpada usada a noite
Relembro e invento em mim novas reações
De tantos fatos bons de hoje e de antes.
Como, uma mesma companhia me faz tão bem,
Como se fosse nova,
Como se estivesse sendo agora inventada,
Como se fosse apenas um desejo de pensamento meu?
Quando se brinca de deixar o amor nos dias
Assume-se o compromisso de morrer de saudades,
Quando se dorme e nada se sente,
Quando há despedidas,
Quando o momento não cabe o outro.
Tanta solidão feliz só existe mesmo pro sentimento crescer.
Cuido de mim como se fosse possível
Olhar para mim mesma com os mesmos olhos de antes.
Cubro-me.
Fecho os olhos.
Os dias podem mesmo mudar muita coisa,
Quando carregados de vontades inventadas depois de atendidas.

Pois é, voltei. Nova e igual como sempre. Sem ida e sem retorno, porque a internet quase não tem tempo. Tudo tão estagnado que nem me causa emoção pensar. Mas cá estou. Quase nada diferente. Quase continuo sem estar por aqui... Só que com uma novidade: felicidade e amor serão palavras bem mais presentes do que o charme geralmente tenta impedir!



sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

- EU TENHO QUE ARRUMAR ISSO AQUI!
TÁ UM BLOCO DE PAPEL MUITO BAGUNÇADO, MUUUITO...


Vou arrumar tudo, com tempo...

domingo, 10 de janeiro de 2010

Corresponder

~ Estava mexendo em velhos escritos e achei esse. Não me lembrava dele. Foi difícil acreditar que era meu. Minha memória ainda não se lembra. Mas gostei. E se eu o assinei vou colocá-lo aqui até um dono surgir ou minha memória melhorar!
____


Corresponder


Lugares, lacunas, sobra de ar
Visto tudo para um novo angulo
Descubro, descasco,
volto a mirar.

Pequenos espaçamentos antes não notados
Que dor eles trazem agora!
Tudo veio de repente á mim
Tudo veio sem freio
Importunadamente um tudo frustrado.

Pergunto-me se o tempo não podia ter evitado
ou me avisado, perguntado, me lembrado.
Quando as coisas vieram de onde estavam
a culpa caiu na esperança e na sua negligência.
Pobre sono furtado...

Agarro-me a razão costumeira
Vejo nela a salvação de toda minha impaciência
apenas à procura do meu castigo.
Que tem ele a ver com minha impertinência?

Retraio-me em desgosto de mim
Refaço-me em sonhos novos
Torno-o sublime, torno-o meu querer.
Sem saber se é certo ou não,
acredito que eu lhe mereço por fim.

(mar/2009)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

hoje eu quero falar do meu dia

Nunca tive um diário grosso. Raramente registrei dias. Nunca quis ter um blog-diário.
Mas hoje eu quero fazer isso!

Hoje um fato não-engraçado e um não-comum aconteceram comigo.
Peguei um ônibus deplorável e conversei com uma mulher curiosa.
Tudo simples, mas tudo fez minha mente voar bastante.

Primeiro o ônibus.

Onde moro os ônibus tem cores pra cada parte da cidade,
pra mim sempre funcionou como um divisor de povos.
Você pode criar amizade e reconhecer gente de várias outras viagens
se voce pegar mais do bus amarelo ou do verde ou do vermelho e etc.
Eu sou do povo do amarelo, sem vergonha nenhuma disso e sem nobreza também.
Hoje eu precisei pegar um bus branco e todas essas coisas de povos e
reconhecimento me vieram à cabeça e me senti perdida.
Estava me sentindo uma intrusa.
Até porque eu tinha um pouco de medo também, na verdade.
Era um bus branco. Ia prum bairro complicado (no mínimo) aqui da cidade.
Peguei porque ele passava por um lugar perto onde eu estava, mas perto
só de bus, não a pé, e eu preciava ir.
Não sei se é porque ele passa por um dos hospitais açougueiros de urgência daqui,
ou porque o bairro é perigoso, ou porque sei lá que obra do destino e da falta de higiene,
havia sangue em alguns bancos de um lado do bus. Me senti imunda.
Me senti perdida. Fiquei com vergonha de estar ali. Fique com vergonha do
governo do estado. Fiquei com vergonha de como os transportes públicos estão
jogados às traças na cidade em que vivo.
Conheço uma cidade onde você acha que sempre está em bus novos,
eles sempre tem novidades e o chão brilha.
Isso é respeito, não cultura, respeito.
Por favor.

Fim da parte indigesta...

Agora a mulher.

No hospital onde faço fisioterapia o portão de entrada é bem distante do
prédio, então tem sempre uma van trazendo e levando os pacientes.
A moça me fez umas perguntas na van, respondi. Saimos do hospital, descemos
no portão e ela perguntou se eu ía para a parada pq ela tinha medo de andar por
aquele bairro. Sem problemas. Conversamos sobre as dúvidas dela, ela tava com
medo de não conseguir uma consulta no hospital. Mas o que achei curioso foi ela
me chamar de "amiga". Aqui as pessoas se tratam por "colega" e etc. Mas o amiga dela
soava tão, mas tão engraçado! E ela era visivelmente bem mais velha que eu.
Nem moça era, era mulher mesmo, casada e com um filho, que ela me disse.
Quem via a gente atrvessando a rua
falando do absurdo do preço das casas de aluguel da cidade jurava que a gente se conhecia!

Isso de pessoas que abordam a gente e conversam por um tempo e somem da nossa
vida para sempre constantemente me chama atenção.
E comigo vem sempre associado a hospital.
Fila de exames, de consulta, espera de tudo. Em hospital parece que as pessoas confiam
nas outras, parece que há uma liberação só pelo outro ser um paciente como você.
Afinal, quem puxa conversa longa em fila de banco? Em parada? Em banca?
A violência fez a gente se calar pra essas pequenas coisinhas.
Mas acho que os hospitais ainda estão imunes disso.

Se quer sentir que uma pessoa, nesse mundo,
ainda é capaz de ser educada e simpática com outra,
sem malícia nenhuma nisso, observe os hospitais.

Do aqui para frente

Do aqui para frente


Eu só queria que o amanhã tivesse pedaços recortados dos meus sonhos.
Aqueles sonhos tão sonhados, já gastos, desbotados de tanto tempo.
Mas apesar de tudo ainda de pé.
Não sei o quê exatamente cria o limite para esse tipo de coisa, essa espera infinita,
esse querer constante, esse cansaço para tudo que não diz respeito ao outro.
Vai ver, não há mesmo limites.
Ou então até haja mas não faz a menor diferença,
o que não seria novidade.

Continuo caminhando pensando que às vezes sei por que caminho.
Continuo nisso que se faz caminho fingindo que não sinto cansaço.
Quando os pés estão descalços, que sandálias se tira para respirar?
Alma limpa só é suja por pensamentos.
Toda a animação, toda a ilusão consentida,
todo o falso assombro pela tristeza esperada que bate.
O que fazer quando se é feliz?
O que se busca quando se está feliz?

Finjo que me procuro,
mas na verdade eu sei bem o peso de cada coisa.
Amo.
Amo porque sei que não conseguiria fazer nada diferente disso.