sábado, 28 de abril de 2012

O fato do assombro não podia mais se negar.
Aquelas ruas iam agora recriando seus fantasmas, com novos vestígios diários, com aquelas marcas de vida.
E todo aquele lixo - que podia ser recolhido por agentes da limpeza pública ou por enxurradas até o boeiro mais próximo - era o grande sinal da existência.
A mágica verdadeira iniciou-se pela manhã, quando os primeiros operários iam em busca das tarefas.
Não era simples fazer parte daquilo. Coisas desse nível requerem alguns refinamentos, especialmente de espírito!
Aquele local, passagem para tantos, completamente banal, como por milagre se modificava, camuflava seu lixo, desfocava sua sujeira, abandonava seu mau humor (mesmo com a poluição automotiva de sempre).
Depois os olhos que corriam por poucos segundos...
O esforço em vão que se fazia para alcançar...
A grande felicidade, o grande espanto, a emoção clichê e sincera:
O florescer do Ipê!

(set/2011 ~  mymindin: av. barão de gurguéia)
                     
                                       





 Crédito da imagem: http://www.flickr.com/photos/mauriciopokemon/

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Saudade


Saudade

Faz de conta que chegou
Faz de conta que lembrei
Faz de novo, faz luar...
Se fosse maior seria igual
Se chegasse ao fim, seria o início
E tentar pra ver acontecer
Esquecer do que não foi, e se foi
Dedilhar a sorte...
Ficamos assim então
Voltamos assim de vez
Enquanto houver verão
Vai tudo durar outra vez
Durar o que se quer e o que não se quer também
Brilhará a fé,
Dormirão as promessas,
As promessas...
Lembrarão, lembraremos...
Com sorrisos incompletos
Com abraços já distantes
Com as folhas em branco
Com a distância refazendo o que se faz
E se faz?
Faz de conta...

(set/2008)

Negar

Negar

As flores que eu quis te dar, voaram e pararam longe
Pareciam já prever o sentimento que você faria surgir
Num riso eu entendi
E eu nao quis mais fugir de esperar
E eu nao quis mais fingir te negar
Mas te querer era matar o que em mim eu cultivava
Sonhar virtudes, montar miragens...
Tudo em mim a mim se esqueceria: pena, lucidez, coragem
E o orgulho de que um dia me cobrei,
Esse que voou ao nascer,
Viu você me arrancar as pétalas que nunca te dei
Dissimular, mentir, disfarçar: você.

Num beijo a minha vergonha engolir
Só um deus fere-se para amar.

domingo, 1 de abril de 2012

Luar

Luar

Ainda faz noite
Dentro e fora
O vento lambe a memória
Lembranças brincam de existir
Não que a noite seja triste
Tampouco o vento seja mau
Mas as coisas assim tem tons diferentes
E o silêncio novo gosto
A espera aflita, ou morta, de cada estrela pelo dia
Parece um choro baixo de quem espera perdão
E a lua, que hoje não quis se mostrar inteira
É a luz que a vida usa como aviso
De que há sempre mais para se ter.
(ago/2011)