segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Sono Leve

sono leve

vou contar para mim mesma as besteiras que pensei
para ver se a memória não mais falha
e ver se me corrijo antes do próximo sofrer

vou mostrar para os meus olhos as recordações vivas
e impedir que ao se fecharem eles decidam
que é melhor não sonhar a contar palavras medidas

vou fazer de mim um longo abraço
o corpo inteiro em um encontro
a permissão da pele num sentir de laço
e a voz do tato gritando

vou me olhar no espelho
para ver o querer e querer mesmo
pensar e fugir do que prende
o alheio
o erro

vou seguir por onde eu nem notar
para não escolher a que flores amar
e a tudo que me tocar, colher
sem perceber
antes do dia amanhecer
optar por não acordar!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

CidadeSuperNova

CidadeSuperNova

As cores que risquei como quem não nota
Hoje se apresentam em grande intensidade
Penso se eu mesma já não sabia de tudo isso...
Não, não
A gente pensa controlar tudo em volta
Mas não passa nem perto
Meus dias em três cores e muitos sons caminham
E penso em meus passos já me arrependendo de pensar
Pisar pisar
Viver sem nada além

(maio/11)

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Gole

gole

e aí o amor se calou.
sua mudez me embasbacou.
mas o café continuava ali, cintilando.
quando foi que o ar secou assim? eu não saberia dizer.
quando foi que os meus olhos piscaram lentamente demais pra me fazer perder tanto? eu não saberia dizer.
e perdida eu duvidei dos sentidos. quis não despejar o leite de costume na xícara.
já duvidava de sua cor, de seu sabor. duvidava de seu estado, volume, existência.
eu havia morrido sem perceber, a ponto de não saber nem mesmo o limite entre o antes e o depois.
como iria agora acreditar em algo tão palpável? tão ali?
era tudo uma farsa.
meus sentidos mentiam.
a sombra daquele amor fora mais real que tudo aquilo.
não conseguiria dividir minha vida daquele amor.
tudo é um, um é tudo - essas filosofias orientais, paralelamente, pululavam na minha cabeça enquanto o ambiente
esfriava o café.
eu me dividira sem poder. não havia resistência suficiente para aquele novo ser manter-se.
mas veio, como que um tombo inesperado, a ideia de que um amor mudo não é um amor morto.
despejei na pia o café frio. servi novamente o café quente da garrafa.
olhei para o leite. pensei em sentidos.
pensei com meu olfato, com meu tato, com meu paladar. minha visão embaçada talvez fosse covarde demais para acreditar.
e minha audição, caída em desuso, desanimada demais para acreditar.
o leite e o café juntos.
eu era um novo ser. mas não metade do antigo.
ao pé da nuca senti a respiração rarefeita do amor, como se fosse uma explicação de que se de mim viera, só para mim teria sentido.
e ao mudar a forma de senti-lo, acalmei-me.
e no segundo gole, o café com leite já havia acabado.
e no segundo gole, eu já admirava o amor dormindo. com a respiração calma.
mudo em sono. mas vivo.
esperando o despertar.
despertar dele.
e despertar meu.