quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

hoje eu quero falar do meu dia

Nunca tive um diário grosso. Raramente registrei dias. Nunca quis ter um blog-diário.
Mas hoje eu quero fazer isso!

Hoje um fato não-engraçado e um não-comum aconteceram comigo.
Peguei um ônibus deplorável e conversei com uma mulher curiosa.
Tudo simples, mas tudo fez minha mente voar bastante.

Primeiro o ônibus.

Onde moro os ônibus tem cores pra cada parte da cidade,
pra mim sempre funcionou como um divisor de povos.
Você pode criar amizade e reconhecer gente de várias outras viagens
se voce pegar mais do bus amarelo ou do verde ou do vermelho e etc.
Eu sou do povo do amarelo, sem vergonha nenhuma disso e sem nobreza também.
Hoje eu precisei pegar um bus branco e todas essas coisas de povos e
reconhecimento me vieram à cabeça e me senti perdida.
Estava me sentindo uma intrusa.
Até porque eu tinha um pouco de medo também, na verdade.
Era um bus branco. Ia prum bairro complicado (no mínimo) aqui da cidade.
Peguei porque ele passava por um lugar perto onde eu estava, mas perto
só de bus, não a pé, e eu preciava ir.
Não sei se é porque ele passa por um dos hospitais açougueiros de urgência daqui,
ou porque o bairro é perigoso, ou porque sei lá que obra do destino e da falta de higiene,
havia sangue em alguns bancos de um lado do bus. Me senti imunda.
Me senti perdida. Fiquei com vergonha de estar ali. Fique com vergonha do
governo do estado. Fiquei com vergonha de como os transportes públicos estão
jogados às traças na cidade em que vivo.
Conheço uma cidade onde você acha que sempre está em bus novos,
eles sempre tem novidades e o chão brilha.
Isso é respeito, não cultura, respeito.
Por favor.

Fim da parte indigesta...

Agora a mulher.

No hospital onde faço fisioterapia o portão de entrada é bem distante do
prédio, então tem sempre uma van trazendo e levando os pacientes.
A moça me fez umas perguntas na van, respondi. Saimos do hospital, descemos
no portão e ela perguntou se eu ía para a parada pq ela tinha medo de andar por
aquele bairro. Sem problemas. Conversamos sobre as dúvidas dela, ela tava com
medo de não conseguir uma consulta no hospital. Mas o que achei curioso foi ela
me chamar de "amiga". Aqui as pessoas se tratam por "colega" e etc. Mas o amiga dela
soava tão, mas tão engraçado! E ela era visivelmente bem mais velha que eu.
Nem moça era, era mulher mesmo, casada e com um filho, que ela me disse.
Quem via a gente atrvessando a rua
falando do absurdo do preço das casas de aluguel da cidade jurava que a gente se conhecia!

Isso de pessoas que abordam a gente e conversam por um tempo e somem da nossa
vida para sempre constantemente me chama atenção.
E comigo vem sempre associado a hospital.
Fila de exames, de consulta, espera de tudo. Em hospital parece que as pessoas confiam
nas outras, parece que há uma liberação só pelo outro ser um paciente como você.
Afinal, quem puxa conversa longa em fila de banco? Em parada? Em banca?
A violência fez a gente se calar pra essas pequenas coisinhas.
Mas acho que os hospitais ainda estão imunes disso.

Se quer sentir que uma pessoa, nesse mundo,
ainda é capaz de ser educada e simpática com outra,
sem malícia nenhuma nisso, observe os hospitais.

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